quinta-feira, 12 de agosto de 2010

o que trago nas veias

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
Preciso porque estou tonto.

(Leminski)

E foi na tentativa de estancar alguns quereres que insistem em sangrar de mim que criei este espacinho, pra depositar estes coágulos de idéias. Escrevo sem pretensão de agradar, é bom frisar. Pois a maioria destes meus versos que cá residirão nem a mim agradam. São as veias abertas da minha América do Sul [south america is my name/Caetano Veloso]. Sangro porque o instante existe. E minha vida, ah...

Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta.
(Cecília Meirelles)

                Este turbilhão, esta necessidade de dar vida a um dizer que é tão meu quanto do papel em que escrevo, é algo que vem do sangue. Não da família. E sim, da família. Mas desta língua [última flor do Lácio, inculta e bela/Olavo Bilac], felina e lânguida e qualquer coisa de Limeira. De Dôra Limeira [http://doralimeira.blogspot.com/]. E, se nada tenho desta língua-luso-américa-latim-em-pó, este Limeirismo teremos sempre em comum. Amém.

cheirar lírio
beber lírio
sugar lírio
morrer lírio
e nunca me fartar
de lirismo

(Dôra Limeira)

                Caí nesta, então, meio que acidentalmente, meio que propositalmente, meio predestinadamente [meio lua, meio pandeiro, meio trovão/Milton Dornellas]. Cumprindo os fados, num mundo de maldades e pecados [http://www.ithasnotitle.blogspot.com/], sangrando os fatos num poço de saudades e recatos.
                Abraço os meus há-braços de cada dia como quem bebe a água doce de sua própria terra, num suspiro profundo de satisfação. E assim sangro, e assim lírio. Assim delírio.

Caminhando a esmo
Como quem procura a si mesmo
Assim mesmo.

A solidão que me invade o quarto
O choro que me invade os olhos
O bolero que me invade os ouvidos

A rebelião que me transborda os poros.
(Gustavo Limeira)

7 comentários:

  1. limeirismo, hm, acho que adotarei essa palavra mais freqüentemente

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  2. lembra quando eu te disse "você é sensível"? pronto.
    quero ver mais coágulos por aqui, :*

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  3. gustavo, o que trazes em tuas veias nada mais é que o ferro das tuas dores e as hemácias das tuas cores! transborde-nos mais desse teu infinito sangue.

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  4. corta esse pulso de brinquedo e atravessa correndo a ponte e os mares abertos enquanto jorra pela mão o suco aguado das tuas entranhas
    deixa que as ondas num caldo te arranquem os glóbulos que não vês pulsar no cérebro
    quero ver os olhares dos passantes tiroalvarando-te
    a tábua
    e tu seco de sangue sem poder chorar a mágoa
    ecrevendo

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  5. Palavras?! Neste momento estão todas gastas, ineficientes, incapazes de expressar minha impressão. Busco, reviro a minha própria caixa de Pandora e pra minha surpresa...eis que a encontro e ela é tudo que posso dizer: __ Enchanté!

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  6. quando (se) eu precisar de transfusão, sei de quem quero o sangue. se não for de uma laranjeira, que seja de uma limeira.

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  7. Eis um poema que transborda e arranca as veias...

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