sábado, 21 de agosto de 2010

são sons de sim

Mas eu enfrentarei o Sol divino,
o Olhar sagrado em que a Pantera arde. 
Saberei porque a teia do Destino 
não houve quem cortasse ou desatasse.
[A. Suassuna]
Farei que amor a todos avivente, 
pintando mil segredos delicados, 
brandas iras, suspiros namorados,
temerosa ousadia e pena ausente
[L. de Camões]
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
[M. de Assis]
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
[V. de Moraes]

Estes dois novinhos são frutos de um sonho antigo!, o de escrever sonetos. Esta forma fixa carregada de história sempre me fascinou, com sua métrica e esquemazinho de riminhas, tudo bem assim, bonitinho. E, honestamente, nunca achei que conseguiria! Parece que, quando você realmente quer escrever algo de certa maneira, o poema simplesmente não vem. Tem que deixar vir naturalmente, o sangue seguir seu curso natural, e quando menos se espera... sai! [os poemas são pássaros que chegam/não se sabe de onde e pousam/no livro que lês – M. Quintana] Coagulei-os entre uma aula de química e uma de literatura, mas estou com um pé atrás quanto ao conteúdo... Dos possíveis leitores, peço um possível feedback em formato de possíveis menarcas [comentários], agradecido ;)

O Andarilho

Por mares e por terras que passei
Não vim a encontrar o que queria
Países e paragens que andei
Cidades, vilarejos, nada havia

A solidão, sem alma, me sorria
A mim votava seu olhar mais torto
No agouro destes dias, não cabia
Em mim nem alegria – nem conforto!

A sombra que me assombra me condena
A este caminhar triste, vazio
A companhia horrenda de mim mesmo

E eis que o tempo corre em mim, sem pena
E andando, escrevo os versos como um rio
Chorando a correnteza, só, a esmo.

~//~

uTUpia

Uma beleza bruta como a aurora
Que vem, invade, sem pedir licença
Não diz ou cala, nem ao menos pensa
Apenas de existir, sorri e chora

Mas de que chão teria ela brotado?
Oh, de que terra teria nascido?
Caiu do céu, pluma, sem alarido
Ou veio deste solo vil, rachado?

Não sei, não ligo – não me move a mente
Contento-me de ver seu rosto puro
Que enfeita e ilumina meu cenário

Assim, posso gozar ser solitário:
Em lhe beijando as pétalas, lhe juro
Sorrir pra sempre ao ver o sol nascente.

6 comentários:

  1. Quem tem dom, tem dom e pronto, nao adianta forçar, tem gente q simplesmente nasceu pra isso, é incrivel

    tu chega bem perto, a nao ser q vc nao goste do q escreve

    ResponderExcluir
  2. tudo sempre muito leve e bonito. com "o andarilho", lembrei de um frase que diz: "é tão difícil guardar um rio quando ele corre dentro de nós".
    bom mesmo que ele fique assim, à mostra.
    beijos. parabéns!

    ResponderExcluir
  3. " (...)
    Esse que a gente tá vendo
    Lendo, lendo sem parar
    Do avesso é bem travesso
    Tem talento pra voar (...)"
    Parabéns, Gustavo!!! Muuuuito lindo!! Adorei os dois! Besos.
    Karol

    ResponderExcluir
  4. Não sei o quê, entre a quimica e a literatura, é tão instigante. Mas seja lá o que for, faça dele o seu momento. Pois eis que, a inspiração que percorre essas veias, novamente se fez sangue, e o sangue se fez verso...

    ResponderExcluir
  5. guga, devo dizer que você se saiu muito bem na experiência de produzir sonetos. ficaram ambos musicais e de leitura bastante fluida. parabéns!

    ResponderExcluir
  6. escrever durante aulas ruins é o melhor remédio pra aulas ruins, só perde pra desenhar

    ResponderExcluir