sábado, 30 de abril de 2011

chico buarque de hollanda

‘saiba que os poetas, como os cegos,
podem ver na escuridão’

[Chico Buarque/Edu Lobo]



                Esse poema é novo, bem novo. Estou trabalhando num novo projeto, poemas que falem de música, da música, dos músicos, enfim... Aos poucos, vocês vão ver coisas novas dele por aqui. Este, em especial, fiz inspirado no retrato que Luyse (que se esconde aqui http://luluyse.blogspot.com/) fez do Chico, é uma ilustração letral para um retrato em branco-e-preto. Perdoem também a distância e as postagens tão fevereiras, é que estou sem internet =x
Enfim, espero que gostem J



você, que é artista, me diga:
qual a cor dos olhos de
chico buarque?
aquela mirada que sustenta
coisa pra desmantelo
matéria de poesia e
punhado de humanidade.


é, pois,
o único poeta que conheço
de não ser feito de palavras, mas
de samba
e de retinas.








sexta-feira, 22 de abril de 2011

encore des paroles


‘te olho
te guardo
te sigo
te vejo dormir’

[Chico Buarque]

 
                Eita, que fazia um tempo já que eu não dava os versos por aqui. Vortei! :) Dias desses postei cá um texto sobre um poeta dos meus preferidos, meu avô. Hoje, a gente dá continuidade à saga consangüínea pra falar doutro carinho meu, minha avó. Lucinete é luz, e gerundia doçura. Esse texto é das minhas recentes incursões no mundo do não-verso que é verso... Espero que gostem!





eu não vou dizer pra você que eu tive uma infância difícil. é foda ser brasileiro da classe média e dizer que qualquer coisa na vida foi difícil. eu poderia dizer então que a minha infância foi... peculiar? pff! adjetivos pra quê, né?, tem horas que eu não sei nem dizer se eu tive infância ou não. só houve um momento de certeza nessa minha jornada que eu soube ter de fato infância no ar de meu arredor; imagina aí: era eu, assim, menorzinho, barrigudinho, penteadinho, sorrisozinho, no colchãozinho. eu num extremo, minha doce e escorpiana irmã no outro. ao meio, eles. eles seguravam um jeito assim de quem carrega doçura desde sempre. no extremo de lá, meu avô olhava do alto da cama a minha irmã deitada no chão e lhe contava, no seu dialeto novembro, tudo que ela queria ouvir do alto dos seus cabelos loiros. no extremo de cá, éramos minha avó e eu numa batalha épica de canções de um tempo que eu não vivi.
enquanto estávamos acordados, eu e ela, conversando por dentre o escuro, eu via as luzes e as sombras que os carros produziam através da janela, projetando um filme kubrickiano na parede a minha frente, eu descrevia com as palavras que me cabiam todas as imagens que se poderia identificar da retina de um eu pequenininho. até ali, ainda era criança. mas acho que eu gostava mesmo era de ver os olhinhos da minha avó, cheio de histórias ao redor, lentamente fecharem ao som da minha verborragia.  hm... e importa?
isso tudo pra dizer uma coisa: espero que ainda haja netos nesse mundo que ponham suas avós a dormir – quando isso acontece é que nascem os anjos.