‘tão bom morrer de amor e continuar a viver’
[Mário Quintana]
[Mário Quintana]
uns pés, uns mãos, uns cabeça, uns só coração |
Fotos: Pedro Rossi |
Antes de cantar ‘Não Identificado’, levei ao mundo o texto abaixo, escrito especialmente para a situação. Espero que gostem!
Se você estivesse aqui, hoje, sentado ao meu lado, eu confessaria na frente de toda essa gente a pior das minhas verdades: nunca me canso de poemas de amor. Você gargalharia alto. Você sempre gargalha alto. Entre sorrisos, me perguntaria porque nunca me canso dos poemas de amor. O amor, você diz, é por si só exaustivo, não precisa que a literatura lhe pise nos ombros. Eu desviaria o olhar por um momento ao fundo da platéia. Depois te encararia e diria: acontece que, para amar, são necessárias duas coisas. A primeira delas é a incerteza. Sem a incerteza, não haveria saudade. Sem saudade, não haveria música. E qual o sentido do amor sem a música? Falo da incerteza que ataca a todos, ao menos uma vez na vida, lá pelas três da manhã. A incerteza do homem de negócios, do vendedor de peixes, do estudante secundarista, da dona de casa, do apresentador de TV. É a incerteza impressa nas canções de Roberto Carlos que a sua vizinha insiste em cantar todo domingo de manhã. A incerteza do sentimento do outro. A segunda delas é a beleza. Ah, a beleza. Não aquela beleza greco-romana, aquela beleza olhai-os-lírios-do-campo, essa beleza não interessa a quase nenhum sentimento. Também não é aquela beleza engarrafada de prateleira de supermercado, a beleza de 1,99 também os interessa pouco. Me refiro a uma beleza mais pé descalço, uma beleza mais cabelo assanhado, mais Gal Costa, mesmo. A beleza vem dar molde ao que não tem nome no amor pelo outro. Por isso que um casal é quase-sempre formado por duas pessoas: numa delas sempre reside uma carga maior de incerteza e na outra uma carga maior de beleza. Não existe o amor perfeito. Não existe em pessoa alguma carga equilibrada de incerteza e beleza. O único ser vivo capaz de segurar essas duas grandes forças é o poema. Assim sendo, meu amor, como eu poderia me cansar deles? Você, nesse momento, seria só espanto. Só olhos arregalados. Depois de respirar profundamente, me indagaria, num misto de pergunta e afirmação: isso aí que você acabou de me dizer, isso aí é um poema de amor. Eu, igualmente surpreso, diria: É? Talvez. Não sei. Acabei de fazer.
Esse texto mudou minha vida. Sério.
ResponderExcluirOeee! Ontem depois do show, fui pessoalmente te parabenizar, mas muito da minha vontade de chegar perto foi pelo texto que vc postou hoje. Fiquei tocada pelas palavras e me senti igual: não me canso dos poemas de amor... a beleza e a incerteza. Belíssimo texto, linda apresentação. Vi pela 1ª vez e fiquei encantada..a arte corre solta no teu sangue. Parabéns!
ResponderExcluirPara amar o cabra precisa tbm de um bocado de fantasia.
ResponderExcluirGustavo,
ResponderExcluirTudo aqui me encantou.
O Prêmio é mais que merecido.
Um beijo e parabéns!
Graça Freire
Em tempo: Obrigada por divulgar o Poesia e Prosapopeia.
O texto é lindo e completamente verdadeiro.
ResponderExcluirPra mim a beleza quanto mais natural, mais bela é. E inteligencia também é beleza.
Gosto do jeito que você escreve, e é notável seu talento.
Parabéns :)
Muito bom mesmo o pensamento. Exatamente isso, amor é o mistério, a descoberta, a incerteza, e a beleza está aí. :)
ResponderExcluirAfemaria, minino...me dê logo um tiro! rsrs
ResponderExcluirLindo, Guga...Lindo...