quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

bibliófilo

‘os livros são objetos transcendentes
nós podemos amá-los do amor tátil
que votamos aos maços de cigarro’

[Caetano Veloso]




                Esse poema é de 2010, mas só agora ele me bateu a porta, exigindo ser postado. Tenho por ele um especial carinho – transformar quem se ama em algo que também se ama foi uma grande vitória deste alguémlírico. Os livros aqui em casa podem ser bem humanos, na mesma medida que cada vez mais se encontram romances, versos e receitas culinárias entre as capas das pessoas. Espero que gostem J





li-o
meus dedos em suas páginas o faziam gemer alto
era como se acariciassem sua alma de um jeito vulgar e belo
o cheiro de livro que dele exalava
era como um milagre obsceno
daqueles milagres urgentes que os anjos performam todo verão
transformando os amantes em personagens shakespearianos.
eu o lia, e era como se ele gritasse alegria em meus ouvidos
e o seu grito era tão suave, tão música, tão lindo
que só a nós fazia sentido – e a ninguém outro importava.
meus olhos passeando por cada letra, desvendando cada verso que nele continha
fazia cócegas no seu ser
e ele riu, e riu, e rio, e ria
a gente se afogando em filosofia, em sol, em poesia.
lia-o, e era como se nunca fosse acabar
vou reler, vou relendo, vou lembrando
deslembrando, construindo, sangrando
entendendo, te chamando, me arvorando.

fantasiei-o de livro porque é o único jeito que aprendi
de carregá-lo dentro de mim.



6 comentários:

  1. estranho e encantador rapaz. adorei tudo, principalmente o final. beijos.

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  2. Uma delícia a cada L-E-T-R-A!! Karol

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  3. "eu o lia, e era como se ele gritasse alegria em meus ouvidos"
    Lindo, Gustavo! Muito sensível, muito bonito mesmo! =))

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  4. Quando Freud falou em Eros parecia se referir só ao instito sexual. Porém uma visão mais profunda e, principalmente, as reelaborações de Reich e Jung ampliaram o sentido do prazer.
    O prazer estético da leitura de um livro, da fruição de uma pintura, da escuta de uma música pode ser uma atividade pra lá de sensual...
    Basta ter os olhos do coração.
    Belo poema, Guga!

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  5. Será que algum livro, alguma vez, sentiu-se tão especial quanto este?! "lia-o, e era como se nunca fosse acabar". Alguns livros são mesmo inigualáveis...

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  6. ISSO É SANGRAR...
    DEIXAR QUE O SANGRAMENTO ESCORRA NAS PALAVRAS, NAS TECLAS (JÁ QUE AQUI NÃO SE USA PAPEL E CANETA).
    SANGRAR É O MELHOR EXERCÍCIO PARA TRANSFIGURAR-SE EM VC.

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