terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

versorragia

‘primeiro não havia nada
nem gente nem parafuso
o céu era então confuso
e não havia nada – yeah!’

[Caetano Veloso com os Doces Bárbaros - http://tinyurl.com/5sasxan]


Recebi a incumbência o desafio de escrever um poema me valendo do título e subtítulo deste blog. Gostei. E fiquei impressionado de não ter pensado em fazê-lo antes! Acho que ainda vou escrever algo me utilizando destas nomenclaturas, mas é o que tem pra hoje. Espero que gostem! J



no início, era o verso.
rastejava o verso sobre o chão que não se via
 - que, porque não se via, não se existia -
ralando cada palavra nele contida nas impurezas que não se viam
que não existiam
mas que se sentiam.
as palavras, já imundas e cansadas de tanta não existência,
inventaram Deus.
veio Deus e soprou-lhas um chão sobre o qual podiam pisar
um céu no qual podiam voar
e, claro!, árvores cujos frutos não podiam comer
 - pobres palavras...
os sapos, o sol, as águas, estes vieram depois.
as palavras se divertiam por aí, inventando mundo
mas ainda lhes faltava algo:
as palavras amolaram o fio do verso e
cuidadosamente
sangraram de si mesmas as metáforas de que eram feitas.
pulsavam-lhes as rimas escarlates
pulsavam-lhes a métrica azul
e do verso fez-se sangue.
 - às palavras faltava vida!
e Deus, velho, gordo e solitário,
no topo de suas árvores proibidas,
assistia excitado todas aquelas invencionices.
Ele pensou afinal que, por detrás das palavras,
elas realmente poderiam significar alguma coisa.
viu dali as palavras inventarem a metalinguagem
e o pôr-do-sol.




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