quinta-feira, 25 de novembro de 2010

épica



'(vou me jogar passarin
no teu abraço sem fim)'
[http://tinyurl.com/2uq7xx2]

Coisa mais curiosa, essa. Pois que eu já havia feito poemas de cunho narrativo antes [http://tinyurl.com/2uyfj5r se lembram?], mas nunca dessa maneira. O que significa? Eu também não sei. Só sei que gosto. E quando me dizem que poemas não são pra entender? Poemas são pra sentir, não pra pensar, silly Gustavo. Sim, é bem o tipo de narrativa que nem todo mundo vai conseguir sentir, mas aqueles que chegarem lá hão de se deixar sorrir pelo simples impulso do entendimento mais puro e honesto. Você, que sabe bem o que é deixar a luz dos olhos iluminar a escuridão da beira de estrada em que se sangra, vai sentir um cheiro de alguém, um cheiro vivo, um cheiro cor-de-toque, e vai sorrir e talvez até se deixe cantar uma canção qualquer. Ou talvez seja muita pretensão minha. Mas esse é o tipo de poema que nunca acaba; Se você se deixa sentir, né?

Épica, sim. Ora, se eu não esqueço mais nunca.


madrugada abraçou, o sereno sorriu
amei em braille cada centímetro do teu corpo quente
cantei contigo en la distância dos lençóis
e mordi a metalinguagem do teu beijo


teu olhar me feriu profundo
e eu não paro de sangrar versinhos moreninhos sem futuro.









5 comentários:

  1. «amei em braille cada centímetro do teu corpo quente»

    eu pensei em algum trocadilho com "o amor é cego", mas seria cair o nível demais

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  2. "amei em braille cada centímetro do teu corpo quente" Delicadamente indelicado... rsrs! Adoooorei. Um dos seus melhores!

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  3. Wow! Doce.. amei! Besos! karol

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  4. Se a “metalinguagem do teu beijo” é metáfora para o amor dentro do amor, também o é para a arte de quem escreveu o poema. Porque esta épica mostra a sutileza de se colocar arte dentro da arte e fazer pensar (ou sentir?) o leitor. Afinal, a partícula “la distancia” atinge o leitor na sua capacidade ou limitação cultural. Aberto o leque, o poeta me fez tentar adivinhar se ele se referia a música “La distancia” de Roberto Carlos, ou ao filme “La distancia” de Iñaki Dorronso.

    Se em Roberto temos o romantismo mais óbvio, em Dorronso temos o cárcere e o ringue de Boxe.

    Ah... e que cárcere pode ser mais sólido que o amor? E que ringue é mais violento que a cama em que se tateia “teu corpo quente”?

    No final, vai ver que o poeta nem pensou em nada disso; apenas achou o som do espanhol bonito. E esse é o truque de quem sabe escrever. Quem lê, se reflete como em um espelho e, coitado, pensa que está entendendo o poeta; e o poeta, bem escondido sob o truque da arte, sorri esperando que cada qual se encontre.

    Eu, senti o "olhar que fere e faz sangrar" (sim, eu também já sangrei) como o impacto das cenas violentas do filme de Dorronso; quem preferir, viaje na doçura (quase diabética) de Roberto Carlos. Arte é assim.

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