domingo, 4 de setembro de 2011

pour elle

irmãos-luz
‘please send me a letter
I wish to know things are getting better’

[Caetano Veloso]          



Escrevi este texto num momento bem íntimo e familiar, e se o publico hoje cá é porque não poderia deixar de fazê-lo. O sangue que aqui se expressa em maneira-de carta coagula no papel de um jeito diferente, todo especial mais que os outros aqui anteriormente postos. É que minha irmã quem sangrou comigo.




Gabi,
quando Quel veio aqui em casa descrever como seria a vivência de hoje, tive a chance de entrar em contato com idéias e sensações das quais eu andava fugindo. Saber da sua partida e da tsunami de conseqüências que ela trará no dia-a-dia dessa casa me assustava – assustou-assusta, e meu primeiro impulso foi afastar esses pensamentos. No entanto – e você sabe mais do que ninguém – que esse dia-a-dia já não anda tão simples, e ser visitado por lágrimas internas e externas acabou por tornar-se comum. Mas foi assim, quase que me afogando em mim mesmo, nos meus questionamentos, nas minhas mágoas, meus fantasmas, que eu descobri a delícia de ter uma irmã. Ocorre-me agora a imagem da personagem da literatura americana que cresceu ao contrário e que, por um curto período, teve na vida alguém que lhe cuidava, que lhe ouvia. Curioso é que só agora eu me venha a identificar com aquele Benjamim, eu que nasci com as barbas a dar voltas pela casa e só agora venho ensaiando minhas primeiras palavras e ontem mesmo de dei a chance de engatinhar. Você me abriu os braços sem medida num momento em que quem eu menos esperava me virou as costas, deixou-me cair sobre eles e teve a coragem de dizer que tudo ficaria bem, mesmo sem ter total certeza disso. E isso não tem preço. Por isso também resolvi que te privaria da visão das minhas lágrimas. Não era a mim o direito de chorar a tua partida, mas de dar a maior fração de força que eu te pudesse dar, mesmo que fosse pouco, mesmo que significasse chorar por dentro, em silêncio – hoje não dá mais pra esconder, me perdoa.
É com um sorriso no rosto, porém, que eu te vejo crescer. A menina que sempre não foi só menina galga agora patamares que a minha vista curta ainda não alcança. Cresce a cada dia a minha admiração por essa coragem com que você anda encarando tudo isso, talvez também nos poupando das suas lágrimas. Essa coragem que nos dá a nós todos também uma oportunidade boa e bonita de crescer, uma chance rica que não vamos desperdiçar. Obrigado, minha irmã.






4 comentários:

  1. Que lindo!
    Apesar de não ser minha irmã, ela se tornou uma grande amiga.
    Desejei muito dar um abraço de despedida nela e em Letícia, mas não estava num bom dia. Sabia que iria me arrepender de não ter ido sábado, e isso aconteceu no mesmo dia!
    A saudade delas já está grande e o abraço guardado só aumentando!
    Novamente, lindo texto!
    Laércio Teodoro

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  2. muito lindo esse poema pra sua irmã! eu lembro bem dela, ela é um anjo, assim como você. adorei! :)

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  3. Cheguei às lágrimas... tenho um relacionamento muito intenso com minha irmã, de cumplicidade e parceria, nos amamos muito e sinto-me protetora dela e protegida por ela. Já estivemos distantes por um bom tempo e mesmo assim nosso amor só aumentou, vai ser assim com vcs tb! Beijo grande

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