domingo, 12 de dezembro de 2010

o poeta

"Vão dizer que não existo propriamente dito
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação para ninguém.
[...]
Agora você vai ter que assumir suas irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens."

[Manoel de Barros]

                e desde que adentrei o mundo das imagens, lhe achei, Mané de Barros. e, como cantou Chico César, ‘quando lhe achei, me perdi’, e não consegui mais sair desse danado de mundo das imagens. nessa brincadeira, acabou que mergulhei numa fase tremendamente metalingüística, como se minha poesia tivesse esbarrado nela mesma passeando por esse mundo novo de imagens e de manoelices. ou num espelho. ou em mim, você escolhe. deixa que você, Mané, é um danado pra desestruturar a linguagem alheia [http://tinyurl.com/3x57le9], e minhas caetânicas iluminuras estão por se escorrer. que seja, pois, para o bem. sempre.

aos possíveis manoelitos & simpatizantes (aka leitores): vos peço humildemente um comentário rapidinho - oi, li, tchau. dá um calor bom no peito de entrar aqui e ver uma menarca a mais – e a opinião de quem lê é importante por demais pra meu coraçãozinho de papel. agradecido J


mamãe quis que eu assumisse toda a irresponsabilidade do mundo
papai me taxou de zoró, de bocó, de bundo vagabundo.
difícil é colocar na cabeça desse povo todo como dá trabalho ser poeta!,
como é exaustivo e triste e frustrante.
é que se tem que amar as manhãs, e chorar a chegada das tardes
amar as tardes, e martirizar a chegada das noites
deitar-se com as noites e ser acordado pelas madrugadas que recepcionam as manhãs
e chorar mais um pouquinho quando o orvalho secar.
tem que falar língua de passarinho
língua de índio, língua de menino e de menina, e de todo tipo de bem-querer.
ufa!
tem que se olhar pro barranco no fundo do quintal de casa e avistar um mar por detrás dele
um mar de um azul-escândalo, de um azul quase vulgar, quase canção.
ver o poema sentado no barranco, contemplando o mar em toda a sua safadeza
desembaraçar os cabelos do poema, lamber as orelhas do poema, beijar sua nuca rosto e boca
e notar que o poema nunca se satisfaz
e que o poema é na verdade bem mais humano do que você.
é entender que deus é feito de arte, deus é todo canção, é todo cenário, é todo saramagal.
entender no fim que pessoa nenhuma pode dizer o que é a arte
mas que a arte pode dizer se somos pessoas ou não.
tem quem diga ainda que poeta tem que ter o coração todo estraçalhado, todo elis regina.
que é preciso sofrer o gozo, e acima de tudo gozar o sofrimento.
e é um pouco verdade, isso, viu?
esse negócio de poeta feliz é tudo invencionice, limeirice, subterfugice.
a pior lição de todas
e talvez a mais importante
e com certeza a mais doce
é nunca ter um poema que seja seu, só, e pronto.
deixar que o poema voe, pois, das suas veias, como as águas que brotam do chão.
uma vez sangrado, o poema se deu conta de sua vida própria
e já levou a do poeta com ele há tempos.







9 comentários:

  1. essa é o Manifesto da Poesia Limeirística, em sua primeira edição ainda não revista nem sampleada

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  2. "...entender no fim que pessoa nenhuma pode dizer o que é a arte
    mas que a arte pode dizer se somos pessoas ou não"
    Quanta verdade há nestas palavras. Agora já posso citar vc, rsrsrs! Coerente sem perder a paixão...

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  3. limeira, limeirinha vagabundo. =*

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  4. "que é preciso sofrer o gozo, e acima de tudo gozar o sofrimento.
    e é um pouco verdade, isso, viu?"

    ...
    e é completamente verdade, isso, viu?

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  5. nunca vi o sentido de ser poeta sendo tão bem expresso. parabéns, gustavo. continue sempre se superando!

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  6. Ninguém também disse que a benção de ser poeta é uma escolha. Você apenas é. Period.

    Dói, inflama, esborra e derrama. Mas.. É conforto, prazer e uma latência quase que incontrolável.

    E.. Continue assim. Poetizando, esbanjando e bagunçando versos ou prosas.. Desestruturando palavras pra tentar descrever qualquer sentimento, ou pensamento.

    Keep doin' that, u're nice, dude.

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  7. Sensacional, Gustavo! Eu, particularmente, gosto bastante do seu jeito de escrever e nunca vi alguém descrevendo tão bem assim algo (não) tão simples, como o fato de ser poeta, de entender ser o poeta. Parabéns! E continue se superando sempre! :)

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  8. caralho, bicho! fuderoso mesmo. preciso sacar mais esse teu blog!

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  9. eita, quem postou por último aí foi Marcus!

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